quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Déjà vu

Pintura de Salvador Dali


Por um momento parecia saudade,
saudade do que não teve, do que não viveu.
Parecia um passado muito presente,
que fazia doer lá no futuro,
deixando-a com medo do mundo.
Ao mesmo tempo que a dor era forte
tinha a sensação de ser uma grande sorte;
não dava pra entender, só esperar..
Passou tão rápido, nem deixou vestígio
só um pensamento compriiiido
do que um dia podia ter acontecido;
era sério ou brincadeira da vida comigo?


Taynara Andrade

sábado, 7 de julho de 2012

O risco


O tempo vai passando página por página sem esperar;
as coisas vão acontecendo,
a cabeça vai doendo
e sem previsão de parar.
A cada dia o ponteiro da vida pula pra mais uma fase
e eu aqui... correndo o risco da frustração de nada sair como planejado,
tudo indo pra outro lado;
e a cada risco corrido, no papel, é um risco riscado
e sempre mal-acabado
por medo de arriscar.
E pensar na vida já parece perca de tempo,
tanto faz, eu já nem tento.
E essa depressão profunda
que me deixa com ares de moribunda,
vagando e divagando devagar
sem pressa de parar,
sem coragem pra arriscar mais uma vez
e me deparar com um papel e um risco
de um não, mais uma vez...


Taynara Andrade

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O jovem



Lá vai ele..
Com tanto ânimo e entusiasmo
deixando todo mundo pasmo
com tantas descobertas sobre tudo
querendo tudo e todo mundo..
Vivendo no limite do viver
não querendo, por nada, se esquecer
de tudo que se passa no momento
de todo e qualqer evento..
Com tanto vigor e tanta pressa
como se o mundo fosse se acabar numa hora dessas
querendo tantas coisas ao mesmo tempo
como se o peito fosse explodir a qualquer momento..
Cada dia vai passando pra ele numa velocidade única
que só ele vê, que só ele, enquanto jovem, conhece
e ela permanece,
enquanto ele não cresce..


Taynara Andrade

sábado, 28 de abril de 2012

Assim.




Às vezes as coisas acontecem de forma muito injusta na vida.
Oras, e quem disse que alguma coisa tinha que ser justa por enquanto?!
Os caminhos são difíceis e tortuosos
As cicatrizes são muitas
As decepções vão se acumulando
A cada dia um novo medo, uma nova insegurança,
uma vontade de jogar tudo pra cima,
uma sensação de que nada vale a pena e que nunca vai valer..
Não vale a pena perder tanto tempo buscando coisas importantes pra nós mesmos
sendo que a vida é tão curta..
Um milésimo de tempo..
Uma centelha de universo..
Uma migalha de paradoxo...
Então pra quê lutar e quase morrer?!..
E tentar sobreviver todos os dias..
E tentar  perdoar todos os dias..
E levar anos e anos pra aprender tão pouco do que se deve..
Reclamar todos os dias, julgar outros medos, outros costumes, outros humanos como nós..
Chorar.. chorar muito.. pela bagagem pesada, pelas coisas perdidas, pela vida marcada..
Na vida é assim, ou você supera ou você simplesmente se mata...


Taynara Andrade

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Evitando confusão... Ou não..

Quando for pra fingir, não se aproxime
Quando for pra ferir, não se preocupe
Quando for pra sumir, não me procure
Quando tiver tempo, não me ocupe
Quando for pra esquecer, não me lembre
E se for pra não querer, me poupe da solicitude
E se não quiser, não mude de atitude
Quando for pra não saber, não pergunte
Se algum dia for ficar, ha ha ha!
E quando for pra desviar, não vou me desvairar
Se for só pra constar, não estarei perto
Porque o que é meia boca nunca será completo
Se for pra abdicar, não se esforce
E se ouvir alguma verdade se comporte
Quando for por interesse me avise
Se não for nada do que eu estiver pensando, não me explique
E se nem souber como dizer, não complique
Quando for longe, mantenha
Quando for perto, mentira


Taynara Andrade


sexta-feira, 9 de março de 2012

O texto que lamenta

Imagem de Duy Huynh

É tanta desgraça
que me desgasta,
Ruídos a noite inteira e
risadas da tristeza, toda faceira;
Sabendo qual é seu lugar
onde, exatamente,  devia estar..
Talvez o tempo não é agora
Ou talvez nem ele mesmo saiba qual é a hora;
E foge de mim,
mas quem disse que era pra ser assim?..
É pena, pena que a noite ainda não tenha lua
E que se não fosse culpa sua...
Seria minha, exclusivamente minha;
Culpada, sozinha...
Lamentando pelo texto que não foi escrito,
pela falta de tempo, hoje, perdido..
Infeliz, pobre infeliz, esse texto morto e esquecido.


Taynara Andrade

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Vida

Imagem de Julia Aummüller

A vida é o que ninguém pode dizer
é o que nada mais pode fazer
é o que não se deve descrever;
A vida pode simplesmente ser
uma canção
pra não
se compreender
e pode não ser
definitivamente
definida em toda mente;
A vida não precisa fazer
o sentido literal, somente
e deixar por esquecer
tudo aquilo que não é mais presente.
Oh gente!
O que fazer com essa vida do presente
que passa tão e tão latente
e chega a assustar a gente?
O jeito é viver,
mas viver só a vida que é da gente.


Taynara Andrade

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Uma fortaleza!

Imagem de Gustav Klimt

Ela se olhava no espelho e dizia com toda convicção e em voz alta:
 -Eu sou uma fortaleza!
Sabia que era e o porquê era, e por isso fazia questão de dizer,
não para os outros, mas para si mesma,
sem arrogância, era só pra ter certeza.
 -Eu sou uma fortaleza!
Isso a fazia pensar em tudo que ganhara da vida até aquele momento
e queria mesmo acreditar, tanto que repetia:
 -Eu sou uma fortaleza!..
E a cada fonema que saía, um soluço chegava em seguida;
com tanta verdade que doía, mas ela, insistente, dizia:
 -Eu sou uma fortaleza.
Nisso, seu coração quase saía pela boca
junto com as palavras, que eram simples e doloridas,
não por elas em si, mas pela carga energética que possuíam.
-Eu sou uma fortaleza..
E as lágrimas salgavam cada letra,
uma por uma, sem pressa nenhuma.
E depois, aos prantos e já sem forças para ficar de pé
ou continuar olhando para o espelho, ela, enfim, descobriu...
 -Eu não sou uma fortaleza...


Taynara Andrade

domingo, 21 de agosto de 2011

Como é que se diz?

Imagem de Edward Munch

E como é que se diz tudo aquilo
que está subentendido
pra ser bem compreendido
e não esquecido..
Aquilo que falar pode doer na alma
e que não dizer seria passar uma vida calada..
Como se diz o que se quer escrever,
escrevendo o muito,
por não saber o pouco que dizer..
Como é que se diz, pra não haver censura,
porque escrever seria a coisa mais pura..
Como é que se diz o que quiser
o que ninguém mais disser,
dizendo sem medo
escrevendo sem seguir qualquer enredo
e ensaiando pra algum dia dizer...
Como é que se diz só pra você saber
sem questionamento
com ideias só no pensamento
e então..
Como é que se diz?
Como é que se escreve?
Por hora,
eu nada posso dizer,
escrevendo me consolo
em algum dia você ler.


Taynara Andrade

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Mórbida sofreguidão


 Blue Nude - Pablo Picasso

..e queria gritar, mas parecia estar com a boca fortemente tampada;
correr era impossível, era como se seus pés estivessem atolados em argamassa;
se debater parecia até inútil, como se nem fosse dona de seus movimentos;
sua mente?.. Ah, esta estava desesperada, com um medo sufocante,
quase que sangrava, esperneava
e seu corpo, imóvel...
Não sabia se movimentar
lutar.. pra quê? o que tem fora daqui? e se for pior?
Mas doía muito, então tinha que fazer alguma coisa;
queria baixar os olhos só pra ver seu estado,
mas eles já estavam baixos e viam nada..,
buscou algumas lembranças
e se lembrava de nada...
a não ser um barulho, que parecia de uma folha sendo virada
e quando o barulho passou ela foi acordando, lentamente
e disposta a enfrentar o que viesse pela frente.


Taynara Andrade

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Espera..

Imagem de Grace Patterson


A espera licha, corta, chuta
às vezes a gente quase não suporta
parece uma sensação de chuva,
de cair e não se levantar..
esperar.. a espera que a esperança é
e quem sabe até
temperada com um pouco de fé..
é "hemorragia de lágrima", é sufoco,
é o que deixa qualquer um louco;
só esperando o final da espera
ai, quem me dera..
poder mudar essa atmosfera
que fica tensa, na expectativa..
com a idéia aflitiva de que a espera
pode nunca se acabar,
restando só essa inútil esperança;      
de só esperar.
    só esperar.
        esperar.
              rar.
              ar.
                 .


Taynara Andrade

sábado, 9 de julho de 2011

Inquietude


                      Imagem de Van Gogh

 E então naquela hora veio uma confusão de coisas na cabeça,
o receio de perder tudo que eu não tenho,
a incerteza de uma convalescença,
a vontade de ir longe.. bem longe..
e voltar nunca mais,
me dissipar no mundo.
Sem saber o que fazer
me deparo com equinócios, venenos,
dias mais, dias menos
e dias mais amenos.
Buscas. Decisões. Lutas. Aflições.
E a confusão não é mais só na cabeça
é na vida toda
e o receio é de não ter ao menos um nadinha como se fosse tudo,
a incerteza é de qualquer certeza
e a vontade é de ir não muito longe, ir bem ali, aonde você está
e nunca, nunca mais te deixar.


Taynara Andrade

terça-feira, 21 de junho de 2011

Do amor e do amar


Tenho aquele amor que não é substantivo,
porque o amor, que é substantivo, é abstrato;
o que eu tenho é aquele que se conjuga,
que é verbo, que age, porque agir faz diferença;
tenho aquele que faz dizer: eu  amo.
E não simplesmente amo,
o meu amar não é intransitivo,
ele precisa do ' te ', porque " eu   te   amo " diz muito mais
e diz tanto que no começo é difícil dizer,
porque dizer é incorporar à vida..
Talvez simplesmente incorporar..
Mas não é simples                 e nem se mente;
porque ele é uma semente
e vai crescendo;
lá de dentro sai muita coisa, deve é se aproveitar.
Conservar.  Cuidar.  Pra ser saudável. Pra ser amor amável.
Pra não deixar nunca de ser amante. Amando daquele monte.
Talvez até seja bonito, mas não.
É só verdade.     A verdade é bonita.
É verdade que     eu te amo!


Taynara Andrade

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Escrevo pra...

Edward Hopper - Automat


Escrevo pra você ler,
pra você me notar e enxergar
escrevo pra você saber como fui e sou,
escrevo transparente,
transparente não pra todo mundo,
mas pra você
escrevo pra não ter que te dizer,
escrevo pra mostrar o como posso fazer
da minha vida palavrinhas e arranjos,
e tentar.. tentar que você saiba de mim,
tentar que você ame.. ao menos minhas palavras
escritas com tanta aflição e efusão,
mas você não..
nem diz que sim nem diz que não;
não lê, não vê..
o relógio é cruel comigo,
porque esse tempo não existe,
agora fiquei triste
e sem saber o que mais escrever.


Taynara Andrade

terça-feira, 7 de junho de 2011

Ser


Imagem de Tulio Dias

Ser aquela flor com todo aquele aroma,
Ser o relógio que funciona
e fazer com que as coisas existam com ou sem axioma.
Ser a caneta que presta,
a calculadora científica,
ser o que não se detesta;
Ser o que não resta dúvida,
o telefone que toca,
o dia marcado no calendário,
ser o cavaleiro lendário;
Ser o bilhete inesperado,
aquele segundo em que só se deve ficar calado;
Ser a testemunha,
o músico que compunha,
ser o definitivo,
o que passa por qualquer crivo.
Ser o detalhe da caixinha,
a gramática correta,
a receita completa..
Ser..
Ser uma história amável,
ser o que sempre quis ser..
indispensável...


Taynara Andrade

sábado, 7 de maio de 2011

O outro lado do mesmo lado

Il Viale del Gardino - Claude Monet


...Ela caminhava sozinha, buscando algo..
sem saber, mas buscava, buscava algo que não conhecia
e não sabia como era e esse era o motivo pelo qual ela buscava,
talvez ela buscasse respostas, perguntas,
respostas incompletas ou perguntas sem respostas;
talvez ela buscasse retóricas, 
medos diferentes dos seus,
noites mais claras que as suas,
mas ela encontrou uma cerca..
uma longa cerca
e ela continuou caminhando
até encontrar um portal,
portal esse que estava trancado, mas era possível ver o outro lado,
que era um jardim, e que lindo jardim era...
ela jamais tinha visto um lugar tão bonito
e como ela queria ir para o outro lado.. como ela queria..
mas com o portal trancafiado daquele jeito ela só podia olhar;
ela se encostou no portal tão desanimada
e começou a chorar baixinho...
Nesse momento, alguém passava por ali, do mesmo lado que ela;
Ele a viu e quis ajudá-la,
ela olhou para o outro lado do portal com um olhar triste e disse:
"isso não é acessível à mim..."
e ele com um arrepio no coração lhe deu a mão e falou com todo carinho:
"mas agora eu estou com você.."
e quando ela olhou à sua volta, o lado do portal em que estavam
pareceu mais bonito que o outro,
então ela respirou aliviada sorrindo pra ele...


Taynara Andrade

domingo, 1 de maio de 2011

"Des(epístola)"

Não foi encontrado o nome do autor da imagem

Não dei muita importância, mas estava achando o máximo você ali do meu lado pela 1ª vez
e até fingi que esqueci todo aquele mal que você "não me fez".
Não falei nada que fosse tão marcante,
mas queria ter dito tudo ali, naquele instante;
nem te olhei direito,
mas sabia cada movimento feito.
Te dei aquele abraço meio frouxo,
mas queria ter te apertado tanto.. que nem sei;
e aquele outro abraço que eu neguei
não pense que foi fácil, só eu sei;
foi o que a vida me ensinou a fazer
para, aquelas lembranças, não me trazer..;
mas num sonho aceitei o abraço
o que me rendeu um grande embaraço
comigo mesma.
Te disse aquelas palavrinhas convencionais
que qualquer pessoa diria,
porém queria ter recitado algum verso meu que falasse sobre alegria,
mas eu simplesmente.. não podia
e até gostaria
que me entendesse por isso.
Conversei como uma adulta, com "palavreios" e mais filosofias,
mas queria mesmo é correr feito criança boba
querendo qualquer resquício de atenção..
Não te deixei se aproximar muito de mim,
mas foi o pavor, de qualquer decepção.. enfim..
e apesar da sanguínea proximidade,
há também alguma falta de intimidade
que me fez "des(epistolar)" aqui
aquela carta que fiz.. e que só eu li...


Taynara Andrade

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A coexistência abstrata de uma verdade absoluta


Estar em um lugar e ter de fingir não estar ali,
com uma existência demarcada
e nem sempre revelada;
existir só para algumas pessoas,
ser expulso de si mesmo
e fingir que essa é a melhor solução,
melhor até que a verdade do "eu existo!"
e existo desde 1992,
não foi antes, nem depois..
E agora.. cumprimentos marcados no relógio,
relógio que só regride;
o pior é pensarem que descasos passam despercebidos
.. eles passam como soluços aos meus ouvidos..
31 dias esperando por um 'oi!'
7 esperando por paciência
e quase 20 anos esperando por algo..
que nunca veio, nem vai vir de fato
independente de qualquer status.
Não. Isso não é uma inspiração..
isso é a transcrição de uma vida
de alguém que não é dúctil,
alguém que, para o desconforto de uns,
não cabe em uma nécessaire,
alguém que por enquanto só ouve e observa,
mas quando disser...


Taynara Andrade

domingo, 27 de março de 2011

O encontro


... e ela escolheu o melhor dia da semana,
aquele que era o seu 'dia da sorte'.
E aguardou por esse dia anciosamente;
a cada um deles a expectativa aumentava
e ela se olhava no espelho o tempo inteiro,
tentando encontrar algum defeitinho que pudesse ser consertado em 3 ou 2 dias.
E ouvia sua música preferida..
lembrava e relembrava..
e imaginava várias coisas para aquele dia que seria especial..
ensaiava pra falar, mas nada parecia bom o bastante..
bom mesmo seria improvisar.
Uma noite antes, nem conseguiu dormir direito; e quando chegou o dia
nem acreditava, pulou da cama mais cedo que sempre;
tomou café e um belo banho que a fez viajar quilômetros
sem sair debaixo do chuveiro;
"desmembrou" seu guarda-roupas inteiro, tentando encontrar a melhor peça..
levou quase a manhã toda só pra isso, mas enfim,
encontrou o vestido perfeito.. ainda nem havia usado.
Estava decidida a estreá-lo.
Arrumou o cabelo assim meio de lado.. para que os brincos aparecessem.
E para nem passar perto de se atrasar, saiu.. cheia de vida e cheirando à sândalo.
Chegou ao local, que era o seu preferido da cidade, se sentou e pediu uma água tônica
para esperar passar os minutos até chegar a hora marcada..
E essa hora demorou, mas chegou
e quando chegou ela quase não se continha de ansiedade,
afinal ele chegaria a qualquer momento...
e se passaram 15 minutos, 20,
1 hora, 2 horas...
E ele não ligou
e ele não chegou..
e ela foi embora..
pensando no encontro
que não aconteceu.


Taynara Andrade

sábado, 19 de março de 2011

Por quê?


E por que o que é feio não pode ser bonito
e alguém legal não pode ser meio esquisito?
E por que o que é "certo" permanece nesse estado
e o que é dito como errado obrigado a permanecer calado?
E por que se ouve música só com a audição
se ela pode ter sido feita com o coração?
E por que um paradigma não pode ser quebrado
e as coisas saírem um pouco do esquadro?
E por que a vida não pode seguir naturalmente
sem ser premeditada em alguma mente?
E por que taxar as coisas só com o "achar" que elas são
sem levar em conta qualquer abstração?
E por que o escuro não pode ser receptivo como a claridade?
Quem ditou isso como verdade, só podia ser covarde.
E quem tem uma verdade absoluta na mão,
por que essa não pode ser uma decepção
sem ter de causar qualquer decepação
em mente ou coração?
Por quê?


Taynara Andrade

sexta-feira, 18 de março de 2011

Amanhecer

Vila num dia de sol - Adriano Ferro

Tudo revigorado..
Se ontem estava ruim, agora está em outro estado
Aquela angústia ficou no pesadelo,
Talvez à tardinha, eu vá até esquecê-lo;
O cansaço exorbitante
Acaba aqui nessa manhã gritante
Com esse sol olhando pra mim
Me induzindo a dizer um grande sim;
Meus ossos, agora fortificados
Nem conseguem ficar parados,
Minha mente já limpa e ansiosa
Pra receber o que tiver de coisa mais gostosa

Vem manhã.
     Vem tarde..
          Vem noite...

O dia não dura muito tempo,
Logo mais à noitinha eu não me aguento,
A angústia volta do pesadelo
E me faz outro apelo..
E os meus ossos, agora cansados, querem adormecer
E a cabeça se esquecer
Pra chegar logo o outro amanhecer
E a cada um desses, amadurecer.


Taynara Andrade

terça-feira, 8 de março de 2011

Nessa noite

Marc Chagall - "Le violiniste bleu"
Nessa noite não tem música,
não tem cor,
não tem lua,
nem mesmo qualquer odor.
Nessa noite não há nada para descrever,
não há sabor não há alegria
nem algum vestígio de agonia;
nada que signifique algo além de nada;
não tem palavras apropriadas
ou rimas mais caladas,
talvez elas nem existam,
mas me contento em representar,
apenas representar com fiapos cândidos
de singelos desabafos gritantes
e pontuações de coração palpitante.
Essa noite.. que já foi tanta
e agora é demasiadamente pouca,
com esse silêncio de me deixar rouca.
Nessa noite eu não sei se eu existo
e já nem mais me cogito;
essa noite não tem nada a me dizer
não tem frio nem calor,
nem leveza nem ardor,
nem beleza nem pudor.
Nessa noite abarrotada de vazio
não sei o que pensar e o que escrever,
não sei quando vou dormir ou como vou amanhecer
e ninguém sabe o que pode acontecer,
por isso é melhor eu me abster
de todo esse oculto querer,
porque nessa noite.. você não está aqui.


Taynara Andrade

segunda-feira, 7 de março de 2011

Nós?


Ultimamente ando me reparando
e ando pensando..
pensando de mais em você;
não pode ser,
a gente nem se fala e nem se vê,
mas não consigo te esquecer
e tenho vontade de te ouvir e te ver,
te sentir e te descrever em escrever.
Tenho sonhos com você
e me lembro de você em tudo que vou ler, ver..
e imagino um amanhã tão distante que pode nem ocorrer
e te tenho tão guardado, tão aqui dentro, tão fundo
que deve ser a coisa mais segura do mundo.
E me inspira a cada gesto feito,
a cada penteado desfeito,
me deixando sem jeito
com esse seu jeito imperfeito
e me irrita você lá e eu aqui;
sem nunca ter
eu perdi
e sem me envolver eu sofri,
sem você saber eu senti;
agora já vi
sou fato esquecido
você é caso perdido
e nós algo nunca ocorrido.


Taynara Andrade

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Do meu exílio



Muitas letras, muitos neurônios,
muitos erros e medos platônicos;
canções pela metade,
textos por fazer
e desafios à capacidade
de quem, nas entrelinhas, sabe ler.
Tudo na mais perfeita ordem
e eu regente desse pequeno universo
que [ao menos por enquanto], deve ser só meu;
o mundo lá fora até já me esqueceu
e eu?.. isso não importa..
Sempre ponderando,
às vezes esperando
e me esquecendo que expectativas quebradas
podem doer mais que facadas;
porque foram elas, aquelas migalhas de atenção
que me deixaram dessa maneira,
pensando que não..
que "era besteira".
Então nunca sei o que todo mundo sabe
e agora esse lugar quase não me cabe,
porque me olhando desse espelho pareço ser outra pessoa
e quando minha voz ecoa,
não.. essa nunca foi a minha;
isso me dá um frio na espinha...
e sempre passa da meia noite
e eu, como sempre, falando sozinha..
aqui.. no meu exímio exílio paralelo.


Taynara Andrade

domingo, 6 de fevereiro de 2011

É lá...



É na ausência que sinto
na presença que minto;
É na falta que eu tenho
no medo que enfrento
no frio que esquento
na falta de você que te invento,
só então percebo a fria que entro..
É no silêncio que te ouço
no escuro que te vejo
e te beijo
e nas horas vagas não te deixo;
É na brutal simetria de minha vida
no obsessivo desconcerto da minha escrita..
é nas palavras que eu calo
e não falo,
é lá.. é lá que está...
e você pode encontrar.
É no livro que eu não leio
no dia que você não veio
no texto que não está escrito.
É no relógio que parou
no fato que não se elucidou..
é nesse sonho que eu vivo,
na vida real, me esquivo,
porque é no final que a gente entende o porquê do começo,
disso, jamais me esqueço.
É nessa busca que te perco
na dúvida que te encontro
e se te encontro me perco,
se te perco me agonizo,
me encontro num beco
e fico..
até você me encontrar..
porque é lá.. é lá que eu vou estar.


Taynara Andrade

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Um absurdo



É um absurdo não poder me expressar
e não querer nunca, amar.
É um absurdo nem poder dizer, afinal
pra alguém que é especial,
mesmo que esse não fosse o objetivo inicial..
Porque quem sente hoje, vai pro hospício
como se fosse resquício..
de loucura
de idiotice
de intemperície
de ilusão,
quero não..
desse jeito
não cabe nada no meu peito
que ao amor diga respeito..
Um absurdo doer só em mim,
mas enfim
um absurdo..
não poder gostar
ou me decepcionar
por não ser o que idealizei,
é covardia eu sei,
mas a princípio nem pensei.. e neguei
e depois até notei
que é ridículo fugir das palavras que levam às pessoas
e das pessoas que levam às palavras
é inaceitável a fuga de si mesmo
e cair num grande ermo..
não..
posso sim
querer algumas imperfeições pra mim
e que sejam elas sem fim..
como se a decepção fosse o fim do mundo
e que o amor, do poço, fosse o fundo
e se pode chegar lá em menos de um segundo.
Eu bem que queria o dom de não me apegar ou me decepcionar
e ser por qualquer instante
totalmente inconstante,
como sempre fora antes..
Mas me perdi outra vez
nessa sua altivez..
e concluí que o amor é tão ridículo quanto nós somos
e nós existimos tanto quanto o amor,
seja a interpretação como for
Eu só queria existir
e não ser ridícula por isso..


Taynara Andrade

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Voltou

O Grito - Edvard Munch 

Voltou..
Quando eu menos esperava,
quando até pensei que melhorava, voltou.
Quando pensei que a poeira tivesse baixado
e que minha ira tivesse se calado, voltou..
Tudo outra vez..
Volta e meia esse mesmo veneno me tenebria,
a raiva novamente me ludibria
e com isso se regozija
me fazendo cair sempre no mesmo lugar,
onde eu nunca mais queria estar.
Aí quero gritar.. gritar..,
mas quem vai vir me buscar?..
quem poderia acha que não pode
e por isso minha cabeça quase se explode
tentando entender
o grande pecado que eu fiz pra merecer..
pagar por tolices que não foram minhas
e ter que conviver com isso.. como se fosse meu
então novamente minha mente fica num breu...
e a culpada?... Ah! deve ter sido eu...
e agora       eu        devo ter maturidade,
quando questionada sobre a verdade,
que eu inclusive nem sei,
e culpada do que eu não errei.
Resolvi. Me calei.
A frieza das pessoas me comove. Profundamente.
e me deixa com a mão quente
escrevendo apelos e mais apelos,
sabendo que quem lê-los,
ou pode entender...
ou fingir não poder.


Taynara Andrade

domingo, 16 de janeiro de 2011

Como eu queria..


Como eu queria..
te tranquilizar, dizer pra não se preocupar
e te falar,
que tudo valeu a pena sim
e que te queria perto de mim.
Como eu queria..
te mostrar que cresci
e mostrar o como eu vivi,
só pra compartilhar
e não ficar tão pesado de carregar
e no final de tudo, ainda te orgulhar.
Como eu queria..
que soubesse
o quanto a sua ausência me estarrece
e até me enfraquece.
Como eu queria..
te dizer que com esse texto, de você, eu me lembro
e dizer que dói tanto, que me desmembro;
cada palavra que, aqui, adentra,
cada uma delas me arrebenta
como se esse texto fosse um camicase..
então eu junto trapos de frases,
pra escrever..
já que eu queria, queria muito, dizer...
como eu queria,
mas até hoje, não aprendi...


Taynara Andrade

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Continua..



A princípio qualquer palavra, jeito ou tratamento ilude;
depois, é esperança em amplitude..
dúvidas constantemente
e deixo de ser dona de minha mente..
e não raciocino mais como antes,
não quero mais o que eu queria antes,
não vivo mais como eu vivia antes..
e tudo que me diz fica armazenado
tentando ser desvendado.
E não consigo entender vários por quê's,
principalmente o do mal que você me fez..
não faça assim,
seja claro pra mim..
ou me cuida, me ama e me desperta;
ou me chuta, me odeia e me disseca

sem esse vai e vem de questões e (sub)intenções,
e respostas subentendidas..
todas elas me deixam perdida
no hall do sentimento
que aliás, é um tormento.
E no final?
ainda não tem final;
continua na vida real...


Taynara Andrade

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Isso é tudo



Eu sabia, você sabia, nós sabíamos,
mas por algum motivo não evitamos
e aqui estamos.
Agora é isso..
essa coisa estranha em você, em mim
e nós sabíamos que seria assim,
mas nós deixamos, e nos deixamos
por quê?
vai saber..
Talvez a gente quisesse
que um, perto do outro, estivesse
pra... sem muitos rodeios, ou galanteios
cativasse qualquer conversa
mesmo, estando eu, meio dispersa.
Vai ver a vida que fez isso
só pra confundir e se divertir,
nos mostrando que o mundo é um grande DEVIR..
ou talvez fosse um erro calculado
acertando só o meu lado..
Dane-se, eu não sei o que fazer..
posso sumir por um tempo,
mas não de mim.. aqui dentro.
Só não me julgue mal,
porque não seria recíproco afinal.
Adultos.. só por fora
por dentro, crianças a toda hora;
e não diga sem pensar,
jogando tudo fora;
o tudo que pode ser pouco, quase nada,
mas é tudo...

[DEVIR: Filosofia. Movimento pelo qual as coisas se transformam]


Taynara Andrade

Recolocando os papéis


Nada criativo, apenas explicativo.

Essa é a verdadeira história da Cinderela..
Ela não era aquela santa que todo mundo conta, era uma garota extremamente problemática, vivia nos bailes e era do tipo de garota que "esticava"..
Sua mãe vivia tentando colocar juízo em sua cabeça, mas tinha sérios problemas no coração e não suportou saber que Cinderela já tinha engravidado e abortado duas vezes, na segunda vez o rapaz até que queria assumir a criança, mas ela não quis e disse que não se casaria com um fracassado feito ele e muito menos seria mãe daquela "criatura".
Essa foi a razão pela qual a mãe de Cinderela faleceu.
E ela, pouco ligando pra isso, continuou com sua vida de "adrenalina".
Seu pai logo se casou novamente com uma outra senhora viúva que tinha duas filhas, ele era bem velho e doente, e a cada madrugada que Cinderela demorava a chegar, sua saúde piorava, até que um dia, como já era de se esperar, morreu.
As histórias dizem que a madrasta era má, mas quem conheceu Cinderela de perto, como eu, sabe que não era bem assim.
Ela não gostava da madrasta, que aliás era uma mulher muito boa e paciente, porque ela e as filhas tentavam fazer o que a mãe não conseguiu, aconselhar, e instruir a garota, e Cinderela achava aquilo um grande "porre".
No dia do famoso baile, que seria uma festa beneficente com pessoas de muita influência na sociedade da época.. Esse definitivamente não era o estilo de festa que Cinderela costumava frequentar, mas ela quis ir mesmo assim.. talvez pra importunar.. ou ... sei lá, ela queria ir acompanhando a madrasta e as duas filhas. Até aí tudo bem, elas adoraram saber que a menina finalmente iria a um lugar de mais classe e seguro. Mas antes de ir à festa, que começaria mais tarde, Cinderela resolveu ir a um barzinho com os amigos.. e se esbaldou no vinho, chegando em casa .. bêbada (e aliás toda aquela alucinação de fada madrinha, abóbora, ratinhos.. foi em função do vinho), e ainda sim queria ir à tal festa, a madrasta e as filhas deram banho, café e depois tentaram por tudo convencê-la de ficar em casa e que no próximo baile ela iria, mas foi em vão.. ela iria e pronto.. Então elas não puderam fazer mais nada e acabaram a levando.
Uma das filhas da madrasta era noiva de um rapaz muito rico e bonito.. Cinderela, que já tinha melhorado um pouco, ficava trocando olhares com ele e roçando em sua perna por baixo da mesa sem que ninguém percebesse, só ele, claro.

Ele que apesar de ser rico e bonito, era também um mulherengo, adorou Cinderela: "tão desinibida,.. bem diferente da minha noiva". Em certo momento, Cinderela disse que ia tomar um ar fresco e foi até o jardim, logo o rapaz, desfarçadamente foi atrás, e lá... consumaram toda falta de caráter que os dois tinham e de sobra.
Algumas semanas depois, Cinderela descobriu estar grávida.. novamente, mas dessa vez como o rapaz era rico ela decidiu ter a criança, e contou a todos.. houve uma grande confusão até que tudo se ajeitasse. Ela conseguiu se casar com o rapaz, que até tinha gostado dela.

Cinderela às vezes até mandava entregar bilhetinhos  para a filha da madrasta dizendo que ele era um ótimo marido, pai e .."ótimo em TUDO"...

Enquanto na verdade ele se mostrou um marido extremamente agressivo e alcoólatra...
Ela teve o que merecia..

E a história do sapatinho? Balela.. só historinha pra criança.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

E na ilusão de alguém...



Vem cá, deita aqui do meu lado;
tá escuro e um pouco gelado..
Tem aqui outro travesseiro,
que tá inclusive com seu cheiro..
Vem, chega mais perto;
senão, não fica coberto..
Viu como eu tô arrepiada?
não sei, mas ando meio cismada..
Segura um pouco a minha mão,
é que eu tô com um vazio no coração..
Sabe... tô escrevendo algo sobre você...
ei..

ei...

cadê você?...


Taynara Andrade

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

As palavras



Elas se camuflam, me torturam, me orgulham..
Será que mexem contigo, tanto quanto comigo?..
Elas se insinuam pra mim,
até quando não estou muito afim
me saem até pelo espirro,
eu chego que me embirro.
Elas... às vezes meio sinérgicas,
outras meio patéticas, e até as que não tem muita ética.
Elas... fortuitamente escritas,
porque de alguma forma, não são ditas
e sempre analógicas a fatos de vidas;
entre falar coisas que doem e sofrer..
melhor arranjar palavras e escrever..
Até já desisti de me esquivar,
resolvi mesmo me entregar..
Só que quando me entrego
e não mais as nego,
elas me consomem e
depois..
simplesmente, somem...


Taynara Andrade

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Decepção



..e me fez sentir culpada,
vida (des)graçada
e se fez tão doce e inocente,
mas na verdade age tão perversamente..
Melhor seria se eu ignorasse...
como se, você, não me importasse.
E era tudo mentira.. aquela aceitação,
tudo espera pra um golpe de supetão..
Agora não..
não deixo..
por isso me queixo...
mas não sei se te deixo..
acho que devo..
Eu bem que quis, e te quis,
e o que você me diz?...
e nem dou o braço a torcer,
mas tomara que não vá me esquecer..
E não se aproxime, por favor
se não, chega a me dar calor..
e eu aqui falando sozinha,
com seu orgulho de pessoa mesquinha..
nem sei como aturo,
esse seu jeito inseguro.
Pior de tudo,
é que não sou capaz,
da maldade que você me faz...


Taynara Andrade

Aprender com o tempo



Com o tempo a gente aprende, que nem tudo está ao nosso alcance
e que podemos nunca mais ter outra chance.
A gente aprende que deveríamos ter feito diferente,
mesmo parecendo inconsequente.
Com o tempo a gente aprende a esquecer,
ou pelo menos não deixar transparecer.
Aprende a segurar as coisas com mais força e empenho,
mesmo que para isso suporte algum desdenho.
A gente aprende a ser mais e parecer menos,
aprende também que nada é, tudo está.
A gente aprende a exigir menos, até quando mais queremos,
e aprende a exigir mais, até quando não se é tão necessário.
Com o tempo a gente aprende, que o tempo nada mais é
do que uma desculpa para a nossa demorada aprendizagem,
e que aprender nada mais é,
do que uma mera consequência do tempo.


Taynara Andrade

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Desabafo



Todos nós que tanto julgamos
e com isso nos lambuzamos do início ao fim de nossas vidas.
Todos nós que com frieza calculamos a forma mais egocêntrica de agir..
Que temos faces fictícias que se desmontam hora de dormir..
Que toleramos até onde for
só pra não parecermos "bobos",
que seguimos só porque é moda,
que nunca enxergamos alguém e sim algo,
que estamos atolados de regras patéticas,
nós que tememos PANE em nós mesmos
e não "podemos" ser diferentes.
Todos nós que medíocremente, vivemos com tanta usura,
todos nós que sapientes de ignorância,
não mais, sabemos sentir fragrância.
Toda nossa insanidade e prepotência
fazendo jus a nossa pequena e insígnia existência.


Taynara Andrade

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Aquela menina



Quem olha aquela menina, nem imagina
a história que já traz consigo, carregada de perigo.
Uma vida com poucos anos e esses poucos anos com vida até de mais..
Aquela menina presenciou muitas coisas,
e ainda sorri para as pessoas
e consegue acreditar em coisas boas.
Claro, tem uma desconfiança latente
e o sangue bastante quente,
às vezes nem sabe como se sente,
mas ela se contém, e até que se sai bem..
E conhece a vida de algumas formas,
que seja com ou sem normas..
Sempre teve vontade de falar tantas coisas
e nunca disse quase nada..
Sempre se defendeu sozinha,
ainda bem que fôlego pra correr ela tinha..
Ainda é uma criança...
Com esse jeito e esse rosto, que às vezes até enternece,
mas é mais forte do que parece.
Ela atravessou a linha do trem sem olhar para os lados
e de ouvidos tampados, carregando todos os seus fardos...
E ainda é uma menina...
que tem o choro preso na garganta,
mas pega seu instrumento e canta,
pouco antes da hora da janta,
assim, as lembranças, ela espanta.


Taynara Andrade

domingo, 12 de dezembro de 2010

Do que eu preciso



Preciso sentir o frio, a dor de cabeça
e até que alguém me esqueça.
Preciso sentir o medo, a decepção
e também de ouvir alguns não's.
Preciso sentir saudade, alegria
inclusive suportar algo que eu não queria;
sentir a pressão, a instabilidade
e saber cedo de mais que ninguém diz só a verdade.
Preciso sentir preguiça, tocar meu instrumento musical...
e mesmo que pareça meio banal,
fingir acreditar que sou sensacional.
Preciso de abraço, de amasso,
talvez até de algum beijo devasso
já que o amor anda escasso.
Preciso sentir o sono, o calor,
e também de alguns minutos de fulgor..
Tudo isso porque, pra viver, preciso sentir que estou viva.


Taynara Andrade

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Primeira narrativa


...e como sempre, a mãe costurava..
só que dessa vez, mais cabisbaixa do que os outros dias...
A filha mais velha vai até o fogão e depois até a geladeira,
mas não viu o que procurava, então vai até a mãe e pergunta: "Mamãe, e a janta?",
a mãe, com muito custo, levanta a cabeça com os olhos naufragados em lágrimas e com a voz trêmula e pesada diz:"hoje não tem"...
Aquela voz e aqueles olhos doeram fundo na filha, que pensou ter que ser forte naquela hora
e segurando o choro, só pra não fazer a mãe se sentir pior ainda, disse:"tudo bem mamãe, eu não queria comer mesmo.."
olhou pra uma brecha da cortina que dava pro quarto, viu a irmã mais nova e pensou:"ainda bem que ela dorme e não precisa saber disso agora...".


Taynara Andrade

domingo, 5 de dezembro de 2010

Só pensei..


Eu pensei que eu era diferente,
que eu não ligasse pra toda essa gente..

eu pensei ser insensível,
mas vejo que não se é possível..

até pensei ser do lado sombrio,
e que também gostava de sentir frio..

pensei que eu não tinha coração,
e que não tinha nada em minhas mãos..

e pensei odiar cada coisa no mundo,
mas vejo que não consigo fazer alguém chorar nem por um segundo..

pensei que chorar não era pra mim,
e agora me vejo pelo espelho.. assim...


Taynara Andrade

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Hora de dormir


Apago a luz,
e o escuro me seduz;
me deito,
tomada de emoções no peito;
logo meus olhos já se acostumaram com o escuro
que não é mais tão puro
e já parece estar mais seguro.
Nele posso até escrever,
meio perdida com as linhas,
já que não posso ver..
Aproveitando essa inspiração
que vem dessa palpitação,
que não será a mesma quando o sol nascer
ou quando a luz eu ascender.
Escrevendo no escuro e devagar...
aos poucos o sono vem me embebedar..
Aí já não escrevo coisa de se entender..
e esse poema.. só amanhã eu vou ler.

Taynara Andrade

domingo, 21 de novembro de 2010

Tempo


Combinação de mudanças sucessivas
às vezes doces e quase sempre bem agressivas;
provedor de amadurecimento e paciência
mas também muito lento, traz amargura e prepotência

Prova de que nem tudo precisa fazer sentido
mesmo que assim seja preferido por algo já proferido;
causador de desânimo ao descobrirmos, que talvez nada somos
além de poeira cósmica em meio às coisas incontáveis
por isso não somos mais amáveis

Incompetente médico de algumas feridas,
infelizmente não se pode ter várias vidas;
ilusão de que tudo um dia vai melhorar
simplesmente porque a verdade é difícil de aceitar

Invenção fascinante de algo,
esse algo, o homem

garantia de que tudo vai
e nós também temos que ir.


Taynara Andrade

terça-feira, 16 de novembro de 2010

De repente


E de repente me vejo aqui, desse jeito;
me lembrando de todos os  seus trejeitos,
e tentando achar normal tudo a seu respeito.
 
E de repente me encontro aqui, desencontrada;
como se tivesse sido golpeada
sem reações e calada.
 
Do nada, veio uma angústia desesperadora;
nem sei o que fazer agora,
e fico pensativa por hora.
 
Do nada, vem o vento e me empurra;
me diz pra levantar depois da surra,
porque o tempo nem me vê, ele urra.
 
E então, me levanto;
só queria me reestabelecer um tanto,
agora vou procurar meu canto.



Taynara Andrade

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Um sonho



Aquele vácuo no coração
quem nunca sentiu essa sensação?
Onde se encontra aquele alguém
de quem me tornei refém?..
 
Foi um sonho, literalmente...
eu sei, mas ficou em minha mente
aquele vazio permanente,
daquela pessoa, somente
 
Aquele sentimento
que devia ser meu acalento;
agora não é mais, está no relento,
foi só um momento
 
Aquele alguém não existe
ainda sim, essa emoção persiste
solidão, nisso esse sonho consiste,
uma coisa sem limite
 
Senti um agito na alma
perdi completamente a minha calma
e nem tive como ser salva
 
E a vida segue tão vazia...
e meu coração se esfria,
com tamanha agonia
posterior àquela euforia
 
Agora, é viver da forma possível
trazendo no peito, aquele sonho inesquecível.



Taynara Andrade

sábado, 6 de novembro de 2010

Medo



Medo de não ser boa o suficiente ou não ser conveniente,
medo do não estar presente ou ser tão carente quanto prepotente;
medo de não ouvir o que for importante
mesmo que seja dito bem constante.

Medo da minha impaciência em não saber o que é sapiência,
medo de me enrolar simplesmente no meu caminhar, falar...

Medo do tamanho medo que posso sentir
quando não sabem me ouvir;
e também da dor,
que talvez eu nem consiga, aqui, transpor.

Medo incoerente da coerência;
de minhas verdades serem confundidas com inverdades.
Medo da falta de alteridade
em minha complicada idade.

Medo de ser mal interpretada, viver sendo alfinetada,
posteriormente morrer calada
e ser enterrada uniformizada,
simplesmente por engano...

Medo da não aceitação de uma peculiar opinião,
medo da insensibilidade causada pelo excesso da vaidade..
Medo, meu inseparável, eu...


Taynara Andrade

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ao meu violão



E quando vem a decepção,
ai que saudades do meu violão;
 
quando aquele vazio me aperta
só ele me dá a nota certa;
 
e quando o choro vem pra me embargar...
aaaai que vontade de cantar.
 
Naquelas noites frias com tácito clima...
só ele entenderia minha rima..
com ele meu humor não desafina.
 
Enquanto a chuva cai
minha tristeza se esvai,
 
apesar dessa vida fora do ritmo, fora do compasso;
vou construindo a minha passo a passo,
sem deixar traço, mas sem ele não seria fácil..




Taynara Andrade

domingo, 31 de outubro de 2010

A chuva







A chuva traz,
as coisas lá de trás.

A chuva traz a pesada nostalgia

banhada com uma certa agonia;

traz o medo e a calma 

embutidos em nossa alma.
A chuva traz aquele cheiro peculiar
de fazer a terra se banhar;
traz aquela calmaria
de me deixar em banho-maria;

traz a saudade insalubre

daquelas coisas, hoje, mais lúgubres
traz o que ninguém pode trazer...

a chuva traz pegadas vívidas de coisas já vividas;
traz coisas que não se pode trazer;
e ela leva também, leva pra tão longe, que nada mais pode trazer.


Taynara Andrade